Compositor: Marlon Chagas Santos
A xícara rachada na beirada da mesa
E então lembrei-me de um café esquecido no norte
Uma senhora permanece, desejando ouvir minha voz
Ou um alegre homem que questionava a beleza
Em um cômodo, alguém suspirou fundo
E me vi de novo em um velho cinema
O filme queimou bem no fim do beijo
E ainda assim, todos aplaudiram
Se cada risada é um arquivo vivo
Por que esconder o que dá sentido à isso?
Você nunca para de falar, você diz
Mas se eu parar, quem vai contar?
Todo o caos dos dias comuns
Que só fazem sentido quando nós os vivemos
Você nunca para de falar, eu sei
Mas um dia você vai sorrir e lembrar
De todas as histórias que não se atentou em ouvir
E vai repeti-las sem nem notar
Não falo por hábito ou orgulho
Mas por medo de perder o que não pode ser escrito
O tempo apaga com mãos muito suaves
E você só percebe quando já foi
Se o tempo voa e os dias desaparecem
Deixe-me falar o que me trouxe aqui
Você nunca para de falar, você diz
Mas se eu parar, quem vai contar?
Todas as bobagens que, de algum jeito
Agregam valor nas histórias que vendemos
Você nunca para de falar, eu sei
Mas um dia você vai parar pra ouvir
E rir, mesmo não admitindo
Que minha voz trouxe um pouco de alegria
Não falo só pra impressionar
Eu falo para, da vida, não esquecer
Fazendo com que as palavras deixem vestígios
Em um mundo que se move rápido demais
Você nunca para de falar, você diz
Mas se eu parar, quem vai contar?
Todos os fragmentos que mantem as coisas reais
Quando a memória começa a se rebelar
Você nunca para de falar, eu sei
Mas é assim que eu me mantenho
Mesmo quando o mundo se tornar imóvel
E o silêncio for tudo o que restar